Ele chegou a NBA como armador com altura de ala-armador. Muitos olheiros, na época do Draft, o comparavam a Penny Hardaway, um dos grandes armadores altos que a NBA viu nos anos 90. No primeiro ano, mostrou imaturidade dentro e fora da quadra, mas também muitos lances plásticos, frieza no fim dos jogos e pontos. Pontos e mais pontos.
Ora, esse cara não é um armador, foi o que muitos pensaram. Acertaram.
Agora sem a imensa sombra da turnê de despedida de Kobe Bryant, Russell pode mostrar mais a que veio. Claramente mais maduro depois de um primeiro ano preocupante neste quesito, tem se mostrado um pontuador consistente e a primeira opção ofensiva do time. Fanáticos mais tradicionalistas do basquete acham uma aberração um jogador desta posição ser o principal arremessador do time, mas é esse o caminho que o basquete moderno tomou.
Russell não precisa carregar a bola o tempo inteiro
Luke Walton sabe muito bem disso. Por esse motivo, ele empoderou Julius Randle e Brandon Ingram para carregar a bola e iniciar o jogo. Para Randle, a tarefa é similar a de Draymond Green no incrível time do Golden State Warriors. Quando o adversário erra, Green pega o rebote e inicia ele mesmo o contra-ataque. Tradicionalmente, o pivô passaria essa bola para o armador, que então iniciaria a movimentação de transição. Como Green tem habilidade e discernimento para carregar a bola nesta situação, os armadores podem disparar e buscar melhores posições ofensivas antes que a defesa adversária reaja. Com isso, surgem muitos pontos fáceis de Steph Curry, Kevin Durant, Klay Thompson e companhia limitada.
Walton replicou esta função a Randle e Ingram. Para Randle, é uma maneira de fazer com que ele molde seu jogo aos moldes de Green, atleta com biótipo bastante parecido e um estilo de jogo muito efetivo na NBA atual. Para Ingram, é uma forma de forçar o calouro a chamar o jogo e entender melhor como funciona o basquete profissional.
Essa fórmula tem funcionado muito bem e permite que Russell faça o que sabe fazer de melhor: pontuar.
De tudo um pouco
O basquete moderno é assim. Todos pontuam, todos passam a bola, todos pegam rebotes e todos defendem. O basquete de “especialistas”, onde cada um tinha uma função definida em quadra tende cada vez mais a acabar.
Russell é algo que o mundo da NBA define como “combo guard”. Basicamente seria o jogador com habilidades de ala-armador e tamanho de armador, estando no meio entre as duas posições tradicionais: Point Guard (armador) e Shooting Guard (ala-armador). Coisa de 10 anos atrás, o combo guard era uma das figuras mais abomináveis da NBA, pois os times ainda queriam armadores tradicionais para carregar a bola e os combo guards não tinham tamanho para jogar de ala. Pouquíssimos conseguiam ter sucesso na liga.
Isso mudou. Hoje a exigência é de versatilidade e o basquete tradicional de posições vem sendo reinventado. Hoje os melhores jogadores da posição 1, de armador, possuem um perfil pontuador muito maior em relação a armadores do passado. Steph Curry, Kyrie Irving, Damian Lillard, Isiah Thomas, Russell Westbrook, James Harden, entre outros, estão entre os melhores pontuadores da liga.
Russell não é um armador clássico
Sendo assim podemos concluir que não, D’Angelo Russell não é um armador clássico, mas também não queremos que ele seja. Por mais nostálgica que seja a figura do armador passador, que inteligentemente lê a defesa e arma a jogada, o basquete moderno não exige mais isso. Exige dinamismo, versatilidade e poder de surpreender o adversário. Exige velocidade, transições e decisões rápidas que um pivô pode tomar ao puxar o contra-ataque, e exige também volume de arremessos certeiros que um armador como Russell seguramente pode converter.
D’Angelo Russell é a referência do Lakers no ataque, e uma ótima referência. Acredito que isso responda a dúvida proposta. Nos resta acompanhar o desenrolar da carreira do ainda jovem jogador, que tem potencial de ser um dos cestinhas da liga.