Mais uma temporada de trocas se concluiu, e o Lakers se pergunta: e agora? Depois de viver muitas trade deadlines e offseasons consecutivas pensando na próxima grande troca e na próxima grande contratação, talvez esteja na hora de Magic Johnson e Rob Pelinka mudarem um pouco o discurso e passarem a pensar no presente.
Nesta deadline, o time se envolveu em uma negociação bastante traumatizante com o New Orleans Pelicans, na tentativa de fechar negócio para adquirir Anthony Davis. Praticamente metade do time foi envolvida em rumores de troca, e os jogadores sentiram os efeitos negativos disso, traduzidos na derrota vexatória para o Indiana Pacers pela diferença de 42 pontos.
O Lakers embarcou em uma aventura proposta por Rich Paul, empresário e sócio de LeBron James, que também agencia Anthony Davis. Ansioso por poder tentar conseguir uma estrela deste porte, Magic Johnson liderou pessoalmente as negociações, num festival de vazamentos pela mídia e tentativas de emplacar narrativas que culminou com Davis permanecendo em seu atual time por enquanto.
ERROS CUSTARAM CARO
Em paralelo, o Lakers buscou corrigir alguns erros da montagem do elenco na offseason, mas pagou um preço caro. Para trazer dois arremessadores ao time, Reggie Bullock e Mike Muscala, precisou se desfazer dos jovens Ivica Zubac, Svi Mykhailiuk e uma escolha de segunda rodada no Draft de 2021. As trocas também abriram uma vaga no elenco, que deve ser preenchida nos próximos dias com algum atleta sem contrato. Wayne Ellington e Carmelo Anthony são os favoritos no momento.
Com Zubac e Mykhailiuk negociados, chegamos a quatro jovens que o time perde com mínimo retorno. A troca de D’Angelo Russell, na época vendida como sacrifício necessário para desovar o contrato de Timofey Mozgov, se mostrou um exagero, já que Mozgov já foi trocado mais duas vezes desde sua saída do Lakers, sem que o preço para que outro time aceitasse seu contrato fosse um jovem talento do calibre de Russell.
Depois disso, o time perdeu Julius Randle como agente livre para o mesmo Pelicans com que agora tentava negociar, e agora entrega Zubac, Svi e uma escolha de draft para tentar corrigir erros da diretoria na montagem do elenco, quando não contratou arremessadores na offseason, mesmo que fosse uma necessidade bastante óbvia do time naquele momento. Os dois atletas adquiridos, no entanto, possuem contrato apenas até o final da campanha, podendo deixar o Lakers sem nenhum retorno por abrir mão destes jovens ativos.
A questão aqui não é nem se o Lakers deveria ter mantido estes jovens atletas ou não, e sim que, se queria negocia-los, o retorno deveria ter sido melhor. Russell hoje é um All-Star pelo Brooklyn Nets, e o Lakers optou por troca-lo num momento em que seu valor estava depreciado pela fraca temporada que o time havia feito.
No caso de Randle, que chegou ao final de seu contrato, um bom exemplo seria o que o Orlando Magic fez com Aaron Gordon, que inclusive é do mesmo Draft e da mesma posição de Randle. O atleta não está nos planos da diretoria do Magic, então assinaram com ele uma extensão contratual onde recebe o salário mais alto no primeiro ano, e os vencimentos vão diminuindo no decorrer do contrato. Ele vai receber o mesmo dinheiro total que receberia caso tivesse assinado uma extensão mais convencional, mas se transforma numa moeda de troca interessantíssima para outros times na sequência. Existe algum risco, é claro, mas ao menos o time não perdeu o jogador de graça. Randle, aliás, assinou por apenas US$ 9 milhões anuais num contrato de dois anos com o Pelicans. Com todas as dificuldades que o Lakers teve nessa temporada, será que realmente ele era um jogador dispensável?
Brook Lopez é outro exemplo. Com o time precisando de um pivô arremessador, se ele tivesse sido mantido, não precisaríamos ter trocado Zubac por Muscala nesta deadline. Lopez é titular do Milwaukee Bucks, time de melhor campanha da liga, e está acertando 2,5 bolas de três por jogo com 38,7% de aproveitamento.
Basicamente, todas as peças de que o Lakers abriu mão nos últimos anos estão rendendo muito bem em seus novos times, e as reposições estão muito aquém do esperado. Contratações como Michael Beasley, Lance Stephenson e o instável JaVale McGee não fazem sentido quando o time tinha essas opções dentro de casa e optou por abrir mão delas.
O PRESENTE É QUE GARANTE O FUTURO
Para tentar reverter esta tendência, o Lakers precisa urgentemente mudar de postura quanto a seu atual elenco. Com 27 jogos faltando na atual temporada, o time precisa parar de pensar na próxima grande contratação na offseason ou na próxima grande troca que a diretoria vai tentar negociar e focar no presente. Jogar estas 27 partidas da melhor maneira possível, buscando uma classificação para os playoffs. Atualmente, a equipe ocupa a décima posição do Oeste, duas vitórias atrás do Los Angeles Clippers, oitavo colocado. O Sacramento Kings, com uma vitória a menos, ocupa a nona colocação.
Se quer mesmo que seus jovens evoluam, e até mesmo se valorizem no mercado de trocas se for essa a intenção, o Lakers precisa que eles joguem bem e que o time alcance os playoffs. Apenas com um ambiente estável e seguro os atletas vão conseguir render. O time não pode estar sempre sobre ameaça de reformulação quase completa. Já bastam os efeitos nocivos desta estratégia de montar “elencos de aluguel” que experimentamos nesta temporada, onde a falta de arremessadores nos levou a estas trocas desesperadas, onde tivemos que abrir mão de ativos valiosos para tentar consertar a rotação.
Apesar de tudo que abrimos mão, o time agora está um pouco melhor montado, e uma classificação aos playoffs é possível. Devemos esperar uma rotação um pouco diferente, e ainda aguardamos a definição do atleta que vai ocupar a vaga em aberto, o que também altera a minutagem do time. Apesar disso, é hora de dar ao núcleo jovem a segurança e a confiança necessárias para se concentrar no basquete dentro de quadra, e buscar uma classificação aos playoffs. O time é esse e o Lakers precisa focar em cada jogo de uma vez, sem pensar em offseason, sem pensar em trocas e sem pensar em contratações. A tarefa não é fácil, mas ao alcança-la, o Lakers pode descobrir que talvez as soluções estejam mais perto do que parecem.