Em 9 de Abril de 2019, no meio de sua busca pessoal para devolver o Lakers à glória, com seu astro, LeBron James, sentado do outro lado do corredor, na esperança de que mais estrelas se juntem a ele neste verão, Magic Johnson foi embora. Ele fez o anúncio antes de contar à dona do time, Jeanie Buss e realizou a coletiva de imprensa sem o conhecimento prévio de funcionários da equipe. Este era o seu emprego dos sonhos, um papel que ele poderia ter preenchido para o resto de sua vida, mas terminou tudo em oito palavras: “Hoje eu vou deixar o cargo de presidente.”
Magic dentro das quadras
Se você é um fã do basketball, você também é um fã do Magic. Sua excepcional visão de jogo, aliada à sua incrível habilidade em passar a bola, comandou uma era em Los Angeles conhecida como Showtime. Contra-ataques mortais, passes sem olhar, ponte-aéreas do meio da quadra, jogadas espetaculares. O Lakers não apenas ganhava, como também dava show em quadra.
Em 905 jogos da NBA, Magic registrou 17 707 pontos, 6 559 rebotes e 10 141 assistências, traduzindo-se em médias de carreira de 19.5 pontos, 7.2 rebotes e 11.2 assistências por jogo, sendo a maior média de assistências por jogo na história da NBA. Eram os anos 80 e não apenas as celebridades de Hollywood foram atraídas para o espetáculo Roxo e Dourado, como também a NBA ganhou mais impulsão. Duelos Angelinos contra Philadelphia 76ers, Detroit Pistons e principalmente Boston Celtics de Larry Bird, aumentaram astronomicamente as audiências.
Se você é um torcedor do Lakers, você é grato por tudo o que Magic conquistou dentro das quadras. Foram cinco títulos de Campeão da NBA, três prêmios de MVP da temporada regular, três prêmios de MVP das Finais, doze seleções para o Jogo das Estrelas e nove seleções para o Primeiro Time da NBA. Além de liderar a Liga quatro anos em assistências por jogo e dois anos em roubos por jogo. Uma carreira gloriosa para a camisa aposentada número 32, dessa lenda do Hall da Fama, que pode ser considerada top-5 na história da NBA.
Magic fora das quadras
Em 21 de fevereiro de 2017, Magic assumiu o cargo de President of Basketball Operations, após Jeanie Buss demitir seu irmão Jim e o General Manager de longa data, Mitch Kupchak que foi substituído por Rob Pelinka. A dupla de front office começou então o seu plano para tornar o Lakers um time vencedor novamente, cometendo uma série de erros e perdendo jogadores interessantes no processo.
Em 2017, para se livrar do péssimo contrato de Timofey Mozgov, o Lakers precisou entregar D’Angelo Russell, o qual Magic considerava imaturo e incapaz de liderar uma franquia. Mozgov foi depois facilmente negociado pelo Brooklyn Nets, cujo conta hoje com um Russell que é All-Star, maduro e os levou aos Playoffs. Sim, essa troca resultou na 27ª escolha do Draft de 2017, com a qual Kyle Kuzma foi selecionado. Mas se o Lakers estava de olho no jovem, poderia ter feito outra negociação para conseguir uma escolha de Draft nesse alcance.
Em 2018, mesmo após mostrar evolução em seu jogo, Julius Randle foi embora de graça ao fim de seu contrato, sem qualquer negociação pela renovação. Em sua primeira temporada no New Orleans Pelicans, o ala-pivô brilhou: 21.4 pontos (52.4 FG% e 34.4 3P%), 8.7 rebotes e 3.1 assistências. Mesmo que o Lakers não tivesse interesse em manter o atleta para o futuro, poderia tê-lo assinado e então trocado por outros recursos valiosos.
Ainda em 2018, após fisgar o peixe Rei do lago, seu elenco de apóio foi construído com veteranos controversos (mais conhecidos por suas mentalidades do que suas habilidades de arremesso). E assim foi desperdiçada a primeira temporada de LeBron em Los Angeles. Já em 2019, houve o fiasco da tentativa de troca por Anthony Davis em que o elenco inteiro foi disponibilizado, apenas para o Pelicans esnobar e destruir a confiança do núcleo jovem. A cereja do bolo de decepção ficou por conta da troca inexplicável de Ivica Zubac para o Los Angeles Clippers, por Mike Muscala.
Análise da Decisão
Por que um renomado construtor de negócios se afastaria de um projeto tão terrivelmente inacabado? Por que um rei do drama que ama a câmera viraria as costas para um dos mais famosos trabalhos esportivos do país? Depois de cortejá-lo por um ano, por que ele daria as costas para o Rei?
Das razões e divagações dispersas de Magic, só poderíamos construir teorias que, juntas, provavelmente chegam perto de pintar um quadro completo. Não é um retrato bonito. É a representação de uma organização em caos. Magic nunca foi o homem certo para o cargo e, desistindo de uma maneira tão chocante quanto essa, ele provou isso.
Magic desistiu porque queria demitir Luke Walton, mas Buss discordou. Ele desistiu porque não gostava da política do front office disfuncional, expressamente no que diz respeito às ações do general manager Pelinka, que Magic também poderia querer ter demitido contra a vontade de Buss. Ele desistiu porque não gostava das restrições de regras colocadas sobre ele pela Liga. Ele desistiu porque percebeu que não poderia dar toda a atenção para o basketball e seus inúmeros negócios.
As declarações
A certa altura, a enormidade da situação trouxe lágrimas aos seus olhos, como se de repente ele percebesse o que acabara de deixar.
"Eu chorei antes de vir aqui, estou prestes a chorar agora. Mas é difícil quando você ama uma organização tanto quanto eu amo essa organização, é difícil quando você ama uma pessoa como eu amo Jeanie." Sobre deixar o cargo.
"Amanhã, eu teria que afetar o sustento de alguém e sua vida... e então eu não quero colocá-la no meio de nós, mesmo que ela tenha dito: 'Ei, faça o que você quiser fazer'. Eu sei que ela tem um grande amor por ele e um grande amor por mim." Sobre querer demitir Walton.
"O que eu não gostei foi das facadas nas costas e os sussurros... Eu não gostei de muitas coisas que aconteceram e que não precisavam continuar. Eu acho que ela (Buss) vai se machucar por não ter alguém em quem possa confiar, alguém que irá apoiá-la." Sobre a política do front office disfuncional.